segunda-feira, 20 de abril de 2009

.: Dia sétimo :.

María, María... (em tom de advertência) foi o que ouvi hoje ao condensar diversas histórias do passado. Condensado de lágrimas, como sempre.
Hoje fecho uma semana, e nunca falei de minha história pra ninguém..., não gostaria, visto que não ocorreu nada de extremamente emocionante comigo que deva ser relatado em tom dramático ou abissal.
Nasci de uma epifania, uma risada estrondosa e uma lágrima escondida. Minha mãe não esteve presente em meu desenvolver, cresci meio sozinha. Queria contar que cresci entre tigres selvagens que me ensinaram tudo sobre relacionar-se com o mundo... mas deixo meu tigre calado, em mansidão precisa. No mais fui sendo espelho de gritos confusos de uma personalidade que se mostra mais do que deveria, menos do que necessita, e de vez em sempre causa escândalos, abalos e outras definições impactantes de fatos catastróficos. Sou uma sombra forte, em aquarela deliciosa, sou uma cor: lilás, um cheiro de orvalho do mar, uma música do Nat King Cole e umas entradas para o cinema mudo.
Não deveria ter dito tanto, apesar de me mostrar inteira e nervosa com dedos suados, não sou o que descrevo e reescrevo por aqui. Sou bem maior, coisas de luz: acesa a luz, ela não cabe mais em lugar nenhum, nem no quarto, nem na sala... lugar nenhum.
Me quebrei neste instante. Fragmentada encerro o falar sobre o sétimo dia apenas ressaltando que detesto as coisas pela metade. Sou exagerada e imprecisa. E amo. Amo muito.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

.: Dia sexto:.

Os inexpressivos gestos teus são agressões gratuitas ao mundo. Eu acho que o mundo nos ama, mas quem disse que interessa o que eu acho? Tenho ficado doente das mazelas da exatidão, dos crimes da razão, e de leis que nos impomos. Não tenho sido a mesma que já tocou o alto do mais alto céu. O além para o infinito. O além do mais alto infinito... que por um instante, apenas um instante tocou. Ela, que não mais tenho sido, tem chorado em azulejos frios, secos e ríspidos azulejos. Ela, que de mim tem saído, a correr sem cabresto ou luz, sem lanterna ou aconchego, em inquietação de incompletude. Às vezes penso que ela precise de mim. Por instantes nos tocamos, temos calor e olhos ardentes, temos luz, temos tudo mais que não se pode nomear. Somos infames, não temos limites de páginas. Não temos tudo. Possuímos única e exclusivamente o nada, exatamente como se imagina por aí. Que cor é o teu nada?
Barulho. É só barulho o que faço. É só um sussurro o que escutam. Quando escutam. O que dou para o mundo ele devolve. Ocupo tanto espaço assim?
Estou cansada de não chegar. De não caber. De não querer sorrir. A indiferença, em qualquer instância também me agride. Alguma inflexão? Alguma inferência? Diga-me... Não me importo... este espaço é meu. Letra morta. Talvez brilhe quando algum ler. Entenda como queiras: os pedaços, o espaço, o vazio... aos pedaços. Me sinto uma folhinha ao vento. Uma estupidez qualquer dita numa tardinha de abril, debaixo de chuva rala, com os olhos aflitos e as questões boiando como espuma no mar.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

.: Dia quinto :.


Hoje é quarta, o quinto dia. Estou à beira de um desmaio vonluntário. Provocado. Um desmaio para assombrar os mais insanos delírios. Um desmaio. Em outras mais palavras: acordar para dentro. Mais como acordo do que outro sentido. Mais inefável que qualquer que seja o outro sentido.
Inefável. Adoro essa palavra. Tensiono com as mãos, com os pés, com as costas, com os lábios, tensiono, pretendo livrar-me: acho que é daí que vem a palavra livro. Livro que vem de livrar-se de algo morto e sufocante. É ruim escrito assim? Pois bem, tentemos novamente: Livro que vem de livre, de se ver livre em todas as possibilidades. Ficou mais leve? Ficou mais belo? Talvez.
A imagem acima requer alguma explicação? Ótimo. Não sou eu, só uma projeção do que eu seria se minha pessoa fosse palpável, tangível... me toca? Sim. Ela me toca por demais, tem um je ne sais quoi. Adoro essa expressão francesa que resume a nada algo tão especial. Especial é uma expressão vaga, fraca, tossindo e com asma. Mas eu gosto, e daí que eu goste? Me espanta.
Hoje, no dia quinto me dei conta de que vivo em fragmentos, nessas novas filosofias mesmo, fragmentada, em inúmeros pedaços indecifráveis, em vapores, em suspiros, em tonturas e dores. Quebrada em partes que nunca irão se juntar, em partes que, quando completas, não trazem satisfação...
Vivo me questionando, verde, imatura, inconstante e me refazendo. Hoje é quarta, o quinto dia, e cinco é meu número de sorte. Voilá!

terça-feira, 14 de abril de 2009

.: Dia quarto :.

Bem quarto mesmo. Ontem fui acordar para dentro com vontade de desenvolver um livro, uma história dessas com personagens e tudo. Aí me dei conta que essas histórias só ficam boas quando elas são vividas, e esses personagens são nossas personas maravilhosas que brilham todos os dias. Tenho cola nos meus dedos. Estava brincando de colar papel indagora. Sim, brincando mesmo, de bobeira maternal, feliz da vida.
Essas páginas são diários, ensaios para poesias. Esses textos são em tom sofrido, e espero, ah eu espero, que eles saiam andando por aí assim, bem por aí assim, displicentemente, como dança. Cansei dessas metáforas e comparações de leve, vou esmurrar minha cara para entrar no tal livro com sangue no olho. Quero um livro brutal. Que dilascere os sentidos. O problema é o vivido que anda pairando.
Hoje, no quarto, dia, fico assim pensando em tudo, acho que todo dia é assim, navego em possibilidades terríveis e fico quase chorando de imaginar catástrofes acontecendo comigo, fico dolorida de tiros imaginários e cansada de dançar. Às vezes eu canto pra espantar essas loucuras. Mas prefiro mudar o rumo das histórias, tipo maravilhas. Ontem naveguei na morte. De saber que tudo nos leva à solidão de uma cova, uma pira, ou o que quer que seja e que nascemos em grito poderoso e solitário. Rituais poéticos à parte, creio que nem no desespero de antigas mulheres ao se jogarem na cova com os maridos, ou de Romeu, ao se matar na morte de Julieta, nem mesmo isso pode conferir uma companhia para a morte. Não sei nem com que ciência falo dela, afinal de contas perdi poucos nessa vida, e o que sei é que vou morrer, talvez seja preparação, ou terapia.
Cansei de escrever, e estou sem rumo nessa escrita. Preciso é de poesia. Talvez beber alguma coisa e conversar sem limites com alguém.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

.: Dia terceiro :.

Estou ouvindo tudo pela metade. Meio amargo, eu penso.
Nunca me escondi de nada, não temo quase nada, e até gosto de ver e ser vista de vez em quando. Tudo meio. Caminhei muito... a noite inteira e hoje percebi que não preciso ficar passeando por aí em busca de nada. Preciso parar. Preciso sumir de todo mundo que me veja. Não posso suportar a demasia. Não agora. Não hoje. Certas coisas não nasceram para mim. Estou existencialista hoje. Estou em tontura abissal, vou girando, espirais de medo, talvez um tango, ou uma dança latina qualquer, vou cair... será labirintite?
Estou escutando quase nada. E meus sonhos se derreteram feito sorvete no sol de minha cidade... meu riso ficou dolorido hoje. O que se há de fazer?
Gosto de não ser vista, também. Por isso deixo tudo à mostra, fica mais fácil de notar, mais fácil de tremer o futuro.
Se eu fosse um tecido, ou folha de papel, já teria me rasgado de tanto me repuxar em todas as direções...

Je t'aime d'amour! Eu digo e fujo.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

.: Dia segundo :.

Mania de seguir caminhos que não são meus. De reler anseios exagerados que já se foram. De ser romântica mas não fatalista. Me deixei levar pela falta de tato. Pelos olhos apertados de tanto se fecharem... pelos dias que não me pronuncio.
Não tem nenhum sentido escondido aqui. Fica tudo muito óbvio quando de dentro de mim se me olha. O cheiro da chuva inebria o cheiro de flor. E todos bêbados vão bailar em nome de Dionísio. Em nome de Afrodite. Em cima dos nomes cheios de luz.
Estou fragmentada no dia segundo. Entro e saio das palavras quando deveria reconstruir de onde parei, a antiga história mal resolvida, que possivelmente não virará livro. Eu não prefiro ser como você.
O sangue pulsa no decorrer do sentido. Na verdade ele escorre em formato de margarida: é possível? Abra o sentido, destrua a percepção... se há momentos onde o improvável ocorre, não tente transformar o sentido em razão já conhecida. Simples: onde um cão fala, o sangue pode escorrer em formato de margarida, e poderemos voar por sobre o mar e gatos sempre desvendarão meus olhos negros...
Acredito seriamente no discurso repetido. É ritual, e todo rito tem poder quando refeito em seu original ritmo. Cante para mim todos os dias, e nunca vou deixar de me apaixonar.
O gosto de orvalho do mar ainda existe em mim. E vai persistir, posto que é só meu.