terça-feira, 23 de junho de 2009

.: Dia quinze :.

Ainda não encontrei o sentido. Estou cansada de abraçar e apertar até o sufocamento algo que poderia ter sido.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

.: Dia cuatorze :.

Ja passa da meia noite e me pergunto o quanto tenho sido hermética nestas linhas mal escritas. Procurar e destruir esse maldito momento misterioso é o próximo objeto de trabalho em mente. Necessito de mais viver e menos divagar, mais lembrar que estou viva e menos resoluções por escrito que me traduzem confusa e insegura a todo instante.
Toda hora sinto dor. Toda hora, sinto nos dentes, nas pernas, na unha do dedo mínimo do pé esquerdo, na cabeça, no coração. E nunca me lembro que estou viva. Passo frio, na sala de aula, no quarto, nas chuvas, no fundo do olho eu sinto, e não me lembro que tou viva. Calor, muito e quase sempre o calor, no ônibus, na sala de jantar, na cadeira em frente ao computador, muito calor pra não me lembrar de estar viva... É que vi num filme ou em um livro, não me lembro bem, que essas sensações servem pra nos lembrar de estar vivos. Mas eu não lembro. Nunca lembro. Talvez eu não queira.
Vou te contar que estou menos lírica que anteontem, que fico aqui querendo apenas ver essas páginas extensas, e mais e mais e mais e mais mais mais... desesperadamente mais. O meu pior defeito é o medo, a pior qualidade a ironia.

Para finalizar escreva aqui uma frase de efeito. Obrigada.

.: Dia treze :.

Eu estou sentada em um bar bem organizado, com baratas e tudo o mais que eles precisam, e daqui da pra ver o céu. O horizonte carregado de metáforas... tão colorido e pesado que fico melancólica. Professora de melancolia, tal qual esse de Um apólogo , cansada de servir de agulha pr'essas linhas ordinárias!
As luzes já amarelam as ruas neste instante e eu aqui carregando um fardo estranho e impreciso, ele se derrama e escorre escada abaixo, quase sempre escorre de meus olhos. Nunca estarei sozinha o suficiente para morrer de desgosto. Nunca precisarei de tantos para que me sinta em casa, já tenho quem me basta, já possuo aquele dom. Escrevo.
Na praça do grande poeta as prostitutas se amontoam nas esquinas, na meia luz, meia roupa, meia vida... vida de merda! Fico ainda divagando das metáforas no céu, esquecida de resto de mundo, esperando alguma coisa que não virá.
Acredito na poesia do mundo, acredito na pintura do mundo, vivo a poesia e a pintura, vivo a música do mundo nos ritmos que ele decreta, e nos que eu apreendo. Quem me diz o que é certo se esbarra a cada dois minutos num muro gigantesco. É tudo tão pequeno que dói, no entanto todos preferem o pequeno, ele é aconchegante, ele dá segurança de um objetivo de vida.
Chega mais pra lá que o sangue já está quase me tocando, e eu pretendo sair daqui limpa, sem esse líquido nas mãos.
Sabe que me sinto melhor agora?
Tão inutil e bom conversar comigo.

Mais pálida e alta me levantei da cadeira imunda do bar e deixei uma poesia enrolada pela mesa.

Eu sou bem criada. Eu e minhas poesias.

terça-feira, 2 de junho de 2009

.: Dia doze :.

Os passos não são firmes e a conduta é imoral. O lixo, as horas e a dor não consomem nenhum pedaço da carne quente e sempre disponível. Sempre que se pode. Sempre que se quer. As possibilidades, de tão infinitas, deixam de caber neste verivérbio, neste vocábulo inflexível, nesta arena de pedra que é a indecisão. Elas são mais, e tudo. O corpo febril ateia fogo às imagens redutoras, e o sentido está sempre em movimento, em toda parte, em lugar nenhum, em paradoxos pobres e ansiosos de mostrar alguma coisa sem nome ou forma. Mas carregados de ansiedade, tremendo de vontade flamejante.
Meu nome é o nome de todas as mulheres, meus desejos os de todas, desejo todas, desejo de todas, iguais. Meu nome é aquele escrito na carta amassada tantas vezes, cheia de suor de mãos ansiosas, frenesi de ansiedade ou tremor de paixão, impaciência de desejo, amor. Meu nome é o mais alto grito na noite escura da noite escura, o mais forte dito nos bares cheios de amargura e separação, o mais bêbado numa boca dormente e com gosto de sangue. Eu sempre serei ela. Meu nome é o não dito para não causar constrangimento, é o queimado junto às cartas antigas, é o que estava tatuado no braço esquerdo, perto do coração e foi coberto por outras imagens abstratas e doloridas. O meu nome é o mais belo, é de flor, é o que fica na caixa de entrada de emails antigos, o meu nome é forte e eterno. Meu nome fica na profecia da cigana, no escarro do traído, na pretensão do apaixonado, no temor do cauteloso, na garganta da mulher deixada, no gemido de prazer noturno. O meu nome não pode ser dito. Eu não sou.
Dia doce: não te direi meu nome, grave meu rosto e as expressões que mais detenho ao te encarar.