segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

.: Dia Trinta :.

Trinta dias.
E antes eu tivesse as mãos atadas do que isto de não mais ferver ao sentir o passar dos ventos... as inspirações descem a outros e meu sentir se mostra numa prisão. Estou cega e queria estar presa. Ou morta. Inutilidade. Servidão talvez... uma música me conquista ao longe, sunday morning... Some lazy sunday morning, como eu ou você que dormiu tarde ontem...

A plenos pulmões, Maria morta, a plenos....

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

.: Dia vinte e nove :.

A inconstância é uma prisão. Tempo que se pronuncia quando quer e traz angústia constante, a única constante na inconstância é a angústia. Não proclamo verdade nenhuma, mesmo por que sou uma prisioneira, faço tudo quanto posso por ela, para ser imprecisa e nunca previsível. Sou uma parte selvagem, um tremor no canto da boca que traduz consigo os extremos de uma alma imensa. Sou um pedaço infinito do infinito. A maior conquista que tive foi a de me saber real, dentro de uma carne que não é minha, uma realidade delirante, paradoxo, uma realidade cruel, redundância. Mordi os lábios na concentração de terminar o que comecei, sangrou e eu gostei disso, me sinto viva, mesmo os lábios não sendo os meus.
Aqui se contemplam vinte e nove dias de prisão, mas dentro dos olhos escuros o universo continua em expansão, sou matéria imensurável dentro de um corpo feminino, os dias se olham e me perguntam para onde irão... mergulhem em meus olhos meus amores, que a poesia inunda tudo, e eu sempre fui só poesia.

Nunca mais ensaiei um trecho arrebatador.

domingo, 6 de dezembro de 2009

.: Dia vinte e oito :.

Sabe, eu um dia vou me cansar disso tudo. De toda essa pressão que não é minha e não me deixa ser grande como sempre fui, esse todo que me decepa qualquer extensão, me mastiga qualquer devaneio, me faz um pedaço maldito de carne, maldito tantas vezes quantas possam ser amaldiçoadas as carnes de uma pessoa como eu. Mais ou menos assim que me maltrato. Sei de meu aleijão sentimental e nem por isso saio esmagando todos com meus abraços, nem esquecendo todos com meus olhares perdidos, nem me mostrando mais do que eu possa ser, nem nada, nem mais, nem menos, nem termo nenhum: um ponto no meio dos pontos, um paradoxo.
Sinto que ainda posso muito, e nesses metafóricos ou seja lá o que forem vinte e oito dias me desmanchei como pude, me contorci, aprendi, enfrentei, cantei muito e estive de pé, sem dormir, sem comer, sem descanso, sem espaço... a turbulência me faz fixa no solo, mas a intensidade dos fatos me faz muito perto de tudo o que acontece. Não sinto o precisar, de maneira nenhuma.
Gostaria de me perder com ternura, só isso, me perder com ternura sempre, por que se isso faltar em meu caminho sinto que estarei no caminho errado, com o tempo perdido e estraçalhado em um lençol qualquer. E eu não quero me ver assim.

domingo, 22 de novembro de 2009

.: Dia vinte e sete :.

Vinte e sete dias. Um cometa me atingiu, e nada me faz mais triste. Sou como o rio Parnaíba de Da Costa e Silva.

O silêncio alimenta minha bravura.

sábado, 24 de outubro de 2009

.: Dia Vinte e Seis :.

O mar me devolve as perguntas que lanço a ele. O dia me persegue e se esvai em suor e palavras. As poesias me nutrem, aliviam e perturbam. O querer me abre os olhos todos os dias de manhã. A dor me faz viva, a carne me faz fraca, o sangue me jorra do juízo a cada palavra desnecessária. Existem palavras desnecessárias?
Caminhando como sempre gosto de fazer, me retiro da sala de jantar. O estômago dói a falta de um café da manhã, os olhos reclamam sono. Me deito. As pernas reclamam a falta das tuas. O frio não acontece, é dia já, e como todos os outros é quente e incômodo. Incômodo. Sufocante. Desesperador. Eu que já não sou muito de esperar fico me debatendo com as pernas para cima, uma maneira de achar que estou saindo do lugar. Me evolua por favor. A minha história acontece, perdição, a reescrevo todos os dias, o que não sou, o que não existiria nem em outras encarnações. Seria eu um reprojeto de um anterior que não deu certo? Esquece... estou delirante de sono.
Minhas personagens são todas as mesmas solitárias, apaixonadas, um tanto perdidas, devastadoras marias de manhã cedo, com cara de sono e um orgulho sem fim: se sentem perfeitas e completas em suas significâncias especializadas. São únicas e limitadas, e são felizes de serem assim. Às vezes são discretas, e quase sempre sofrem de estarem vivas.
Neste momento detenho um pequeno riso no canto do rosto:

Sofrer o estar vivo. Ha! Mais comum do que se imagina. Menos simples do que se espera.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

.: Dia Vinte e Cinco :.

Vinte e cinco dias. Penso em parar quando completar um mês, só não decidi ainda se será um mês de trinta ou trinta e um dias. Nenhum desses meus dias passou calmo e constante, nenhum deles se mostrou comum. Não interessa...
Sabe, eu prefiro meus longos cabelos negros e indecisos, meus longos pensamentos inconstantes, minha natureza densa, meu esperar macio depois de tantos turbilhões. Me coloco diante do mar, e ele me repete os enunciados que lanço deliciosamente em sua direção, assim, para me ver livre. Minha cabeça dói muito, creio que seja uma doença, ou uma má notícia que se aproxima. Uma não anula a outra. Hoje é um dia indiscutivelmente comum, e me lanço na conversa sozinha, calma, como quem vaga à procura de.
Vou me retirar com minha precisão. Precisão, leia-se precisar.

Au revoir!

domingo, 27 de setembro de 2009

.: Dia Vinte e Cuatro :.

Você está fora, e você sabe que está aí fora, e não se importa, nem um pouco. Fora é o tipo da coisa que expressão nenhuma equivale, acho que se eu disser que você não se entrega é melhor caminho, creio que sim. Abro as portas, as janelas, as pernas e nada, você continua aí fora, olhando para cima, um olhar perdido, eu indignada chamaria de imundo, de doentio, febril. Te conheci assim, fora. Aí vem você me falar de hesitar e tal, e eu nem ligo por que ando muito entorpecida para isso, vou fingindo que não te vejo aí fora, vou cavalgando em minha vida, dentro da roda, mais comum que os mais comuns que existem, acho que é assim que sou vista. Mais ou menos assim. Saio e te pego pela mão, você me olha e continua aí fora, cheio de si, mais dependente que eu, e vai ficando pequeno, e isso pois está longe demais... vai diminuindo, longe, pequenininho. A pose que você faz me inebria, fica parado, todo torto, olhando para cima. Eu sei o que é, você vive esperando, mas isso eu não sei o que é, nem o lance de esperar, nem o que é que você espera. Vou ficar no hoje, meu melhor dia, sem esperar. Acho isso de esperar patético, já disse, pathos doentio... paixão.


Hoje não haverá uma frase de efeito no final. Que se foda!