sábado, 28 de março de 2009

.: Dia primeiro:.

Foi muito bom voar e ver o mar. Tocar o ar. Sentir o céu.
Mais um texto existencial aqui se permite e eu não me perco nas divagações. Sei que não me perco. Poucas vezes me perco. às vezes me perco. Me perco. Sempre. Quase. Tanto. Cada vez mais tenho pensado em desistir de tudo. No sentido mais estúpido é claro. E não me sinto estúpida por isso: são minhas entranhas que se reviram e revidam cada golpe recebido. Vou procurar o infinito. Cansada demais da sensibilidade. Do choro, do exagero, da dor, da realidade. Talvez em cinco minutos eu desmaie... Quero uma blusa branca, um vestido com flores bordadas. Quero milhares de sorrisos comigo. Quero a sorte, o fim e o princípio. O que eu quero é o que não pode ser desejado. Estou intensa. Tensa. Estou quase no fim. Ou imaginando limites estranhos. Muito barulho por nada. Muito nada. Muito espaço nas entrelinhas. Quero agarrar uma estrela, um suspiro. Estuprar uma cor e fazer uma aberração. Os vampiros me perseguem em todas as esquinas... meu rosto vai ser mascarado em instantes.
O cantar do princípio é o mesmo. Mas já não é mais princípio. Só se detém o poder no ritmo do canto primordial. Avisei que não me perco. Me canso. Estou faminta e nada se parece com comida. Entropia. Libertação. Medo. Susto. Negação. Choro. Mais choro. Choro demais: quando estou feliz, quando estou triste. Choro de raiva e desespero. Eu necessito explodir quase sempre. Eu sempre preciso explodir. As palavras não se mostram. Necessidade não é talento. Meus olhos estão pesados e eu não sei o que espero. Minhas metades pelo mundo: atrasadas, adiantadas, meus pedaços falidos... como os amo! As letras crescem nesse manuscrito estranho... Vou escrever assim, como cartas... datadas e envelopadas. Todos os meus dias de mangue. Não precisa ler. Talvez não passe dessa carta. Sou uma mulher de palavras. Extensas, intensas... Sou comum. Sou qualquer uma. Só não sou e nunca serei você. Pode rir da minha falta de sentido, eu possuo todos os outros sentidos nessas explosões traiçoeiras. Não vou mais disfarçar o que sinto em dizer. Tenho febre quando escrevo assim. As palavras, as imagens, o mundo se prende em meus cabelos e não cai pela tinta de mesma cor.
Ah sim. Existem mundos que nunca serão meus. Existe um abismo que não quer fechar, um grito que não vai sair, uma eternidade em que vou me resignar. O silêncio também não está à altura da grandeza dos momentos. Não diga nada meu amor. Os dias são nulos quando não exagero. Os dias são poucos. Eu exagero para que sejam suficientes............. Eu não sei manipular. Eu sei de nada. Eu sei de muito nada. A língua autêntica aqui se manifesta: fatores que me provocam. Dias que me prometem, me fuzilam todos eles... O que te lê? Sou vazia. Por isso tanto expresso, tenho que preencher meu vazio. É na verdade um espaço enorme. Não sou de todo vazia.
Essas palavras precisam ser ditadas, lidas em alto e bom som: todos os tons, enigmas de meu desespero, ironias que me depreciam. Sempre me deprecio nas horas vagas. E sou livre aqui. Não me importa a repetição e o vazio desse grito. Estou mesmo gritando o meu vazio, o meu não-viver, sou recém-nascida, e esse grito é anúncio! Tenho sede. Tenho dor em demasia.