quinta-feira, 3 de setembro de 2009

.: Dia vinte :.

Vinte possivelmente é um número passivo.
Hoje o frio da noite me acompanha e envolve meus passos. Pareço um sonho, um medo e um sussurro, pareço com uma flor caída na calçada. Desapareço no esperado momento, desconheço o outro que tanto aperto em afago desesperado. Sou um paradoxo barato, que todo dia vem aqui dizer quem é. Sou uma alma alheia que todo dia vem aqui lamuriar sons perturbadores. Não interessa quem eu sou... só me debato em quem eu era, já que a todo instante as águas me levam nos rios, a todo segundo aquela outra se desfaz em fúria comovente.
Crepusculário. Todas as cores se confundem em nuvens sonolentas e a água se confunde com o céu na beira do rio. Desperto ou deito sempre com um aperto no peito, um daqueles que não explico, mas que se explicam no grito ensurdecedor que por vezes vira poesia.
Eu já disse que vou morrer? Uma fascinação eterna essa da morte certa, uma aceitação fajuta, um dizer amaldiçoado por todos que o ouvem. Ainda estou no crepusculário, sorvendo as cores feito menino que vem da corrida suado e aflito, querendo toda a água da garrafa que fica na geladeira que ele não pode abrir com o corpo quente.
Eu sei que escrevo para ser lida, e o improvável, digamos assim, é que sou livre dentro desta única limitação. Limitação que liberta o espírito e consquista as cicatrizes alheias. É assim que trabalho.
Os meus olhos pararam de repente, e acordei. Um fluxo contínuo que se quebra, um outro que se inicia, e eu nem reparei quando foi...
O martelo continua a pregar, e meus ouvidos não podem mais com isso. Quero desesperadamente gritar mais alto, quero explodir mil vezes, reconstruída explodir, quero a exatidão do solitário, e as pequenas epifanias de quem aprendeu a viver sozinho.

Nascer e morrer. Dormir e acordar. Eu sei, eu sei...

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