sábado, 22 de agosto de 2009

.: Dia Dez e nove :.

Hoje assumo minha alma essencialmente triste.
Todos os dias de manhã bem cedo, sobre 4 rodas e muito concreto, faço a travessia de um rio escuro e mal cheiroso. À tardinha faço um passeio ao lado de outro rio maior, mais sisudo e não menos sujo que o outro. Todos os dias eu os vejo, todos os dias eu me espanto, são paisagens de estranhamento, não são os rios de minha aldeia.
Arenoso fica o meu olhar, marejado de estar entre rios, dedicado a apreciar cada detalhe de uma visão úmida e violentada: estes são os rios de minha aldeia. Minha aldeia que cresce pantanosa e solitária, cada dia mais solitária, bem assim sozinha como o nascer e o morrer. Minh'aldeia, estimulada por socos e pontapés, criada debaixo de sol e mentira. Meu lugar.
Todos os dias eu encaro os rios como presentes, aqui e agora, como o tempo correndo e afogando os mais fracos... Todos os dias quero sentir o gosto daquela visão estarrecedora, de certo modo que me descontenta de sofrer o que sofre meu lugar.
Somos contradição, e somos um só, sem definição limitada, um só.
Meu terno ser todos os dias se retira e acompanha o fluxo daquelas águas, um rio me carrega da direita para a esquerda: quer arrancar-me o coração. No outro eu navego em direção ao beijo marítimo, e me desvio pra no outro dia renascer dentro do fluxo.
Sinto o inacabar deste texto, e a ânsia de partir agora...

Nunca são as mesmas águas. E eu nunca sou a mesma.

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